Linhas em tempo de Bossa
Vem
Vamos dançar de perto só um sambinha mais,
antes de que a Lua paulista seja a rainha desta noite
Vamos esquecer de que temos que lembrar
de tempos passados para evadir esta cadenciosa realidade presente
Vamos esquecer de que este ordem e progreso
nâo tem concerto e chorar um chorinho naquele cavaquinho histérico
Vamos lembrar daqueles cariocas que enfeitiçaram os nossos pais
e nossos ouvidos, com a sua arte sublime chamada música, batizada Bossa Nova
Vem rapaz, vem
Vem sonhar comigo que tem um Tom nesse piano pronto para manchar o ar
Vem lembrar do Joâo, batendo papo com o seu violâo
Vem delirar comigo vivendo um outro soneto do Vinicius
Vem que o Chico nos está convidando para esa bagunça barulhenta que se chama carnaval
Vem olhar este baiano carioca nos embrulhar em vida com a sua voz
Vai menina, vai
Vai que aquela garota nâo morreu, que ela é inmortal no corpo da sua filha
Vai que a Gal está namorando a Dindi no horizonte belo do Corcovado
Vai que a irmâ do baiano carioca é a alma de Ipanema
Vai que a irmâ do Chico é o corpo de Copacabana
Vai que a Nara agora é o leâo das Amazonias do céu
Vamos que os instrumentistas estâo esperando.
Eles têm o segredo sagrado que descifra o Brasil.
Vamos logo, que a nossa carne esta encharcada
de escepticismo e os nossos ossos estâo envenenados de medo
Vamos, que o norte de este sul americano
ainda nâo morreu e podemos resucitá-lo
Sâo Paulo-Neuquén, Agosto de 2004
Etiquetas: cosecha propia, poesía
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