chiquilín de bachín

—El mundo es la suma del pasado y de lo que se desprendió de nosotros— Novalis

viernes, marzo 09, 2007

pessoana (I)

Este poema, de alguna manera, encaja perfecta y autobiográficamente con el día de hoy. Dos conclusiones pueden sacarse al respecto; la primera, mi pasión por Pessoa está volviéndose irreparablemente crónica; la segunda, soy un hijo riguroso de la fucking procastination y ya estoy bastante cansadito de mí y de mis obsesiones. Voy a dormir una siesta larga. Hasta mañana.

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.

A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...

Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...

Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...

Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...

Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...

Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...

Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.

Só depois de amanhã...

Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...

Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir...
Sim, o porvir...

Álvaro de Campos, «Adiamento».

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1 Comments:

At 2:01 a. m., Blogger Sol! said...

Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

En verdad me dieron ganas de llorar. Es tan bello y tan triste :(

 

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